segunda-feira, 25 de maio de 2009

...ter mais de 30

Tem algumas vantagens ter mais de 30. E mil desvantagens.
Ter mais de 30 significa que você viveu uma época de músicas sensacionais, com letra, melodia e rima, coisa em extinção nos dias de hoje. Isso também significa que você usou aqueles cabelos e roupas tenebrosos da época de 80 e que provavelmente em algum lugar tem fotos disso.
Ter mais de 30 faz de você alguém que sabe ser perfeitamente possível viver sem celular, computador, PlayStation (quando muito um Atari), TV a cabo, leite de caixinha, fralda descartável, IPod, e-mail. Naquele tempo você sabia "de cabeça" o telefone dos amigos! Você sabe que vivia assim, mas não lembra muito bem como era possível, porque depois dos 30 a memória já não é mais a mesma...
Ter mais de 30 já te deu tempo o suficiente para casar e ter filhos. E descasar e aprender que desilusão de amor dói, mas não mata.
Ter mais de 30 te dá mais auto confiança. E significa que a gravidade teve esse tempo todo para agir e bagunçar o que era tão certinho aos 18.
Ter mais de 30 quer dizer que quando você ia à praia ou à piscina não precisava se lambrecar todo de filtro solar. E também que hoje sua pele tem marcas e rugas causadas pelo sol que nenhum tratamento caríssimo com laser tira totalmente...
Ter mais de 30 faz de você alguém que conheceu diversos nomes do dinheiro em nosso país. E também que viveu os tempos da inflação de 50% ao mês.
Ter mais de 30 te habilita a ter participado das passeatas de estudantes pelo impeachment do Collor. E a constatar com tristeza que o caratér dos nossos representantes piorou muito ao longo do tempo, sinal de que ainda não aprendemos a votar e que nossa memória fica cada dia mais curta.
Ter mais de 30 tem sim um monte de desvantagens, mas me trouxe mais calma, auto conhecimento, complacência comigo mesma e principalmente a auto confiança que eu não tinha aos 18. Por nada nesse mundo eu queria voltar no tempo.

...O Enochato

Este texto é parte do livro O Mapa do Tesouro, um Guia Divertido para Iniciantes no Mundo do Vinho, publicado pela Academia do Vinho http://www.academiadovinho.com.br/.

Resolvi publicá-lo aqui porque hoje encontrei com um exemplar perfeito do Enochato... e ninguém merece !!! Ao contrário das espécies animais, que caminham para a extinção, essa anda se multiplicando rapidamente com a moda do vinho, para todo lado que se olha tem um falando baboseiras. Vamos ao Enochato:

"Enochato é aquela espécie da qual todos nós conhecemos um exemplar (ou vários).
O enochato chega às festas ou ao restaurante, pega uma taça, certifica-se de que tem bastante gente olhando, faz cara de entendido, gira o copo no sentido horário e com inclinação de 26,487º em relação a Greenwich, funga dentro da taça, revira os olhos, fala um monte de coisas complicadas e depois olha para as outras pessoas presentes com ar superior, como se elas fossem a ralé da humanidade por não entender de vinhos tanto quanto ele.
É justamente por causa dos enochatos que o vinho tem essa fama de coisa complicada, inacessível, sofisticada, exclusiva de gente rica, metida e chata.
Propomos aqui uma campanha internacional de extermínio dos enochatos e para isso não é preciso usar violência, basta que ninguém mais preste atenção às macaquices deles frente a uma taça de vinho. Sem platéia, o enochato murcha, perde a pose e sai de fininho."

Beba vinho.

... O Tempo

Engraçado esse negócio de tempo.
Às vezes minha cabeça viaja nas viagens mais malucas e penso que o tempo não é de verdade. Tá bom, sei que agora fui longe demais, mas eu explico.
Acabei de receber um e-mail curtinho de uma amiga muito querida, que "passou" só para dar um oi e disse que está super sem tempo, mas que depois me escreve com calma. Ela é sempre um doce, arranja tempo no meio da maluquice da vida de mãe, profissional, amiga, mulher, para fazer um carinho nos amigos. Adoro gente assim, porque se a gente deixar o tempo (ou a falta dele) nos engole.
Nessa vida maluca a gente tem que aprender a fazer o tempo. Encaixar, priorizar, substituir, ampliar, tentar montar um complicado quebra cabeças com tudo que queremos fazer dentro do tempo que dispomos.
Nos últimos seis meses e meio fiquei por conta do filhote. Não sei como, mas o tempo voou. O dia passa, de novo chega a noite, eu não fiz nada de importante ou complicado, mas estou morta de cansaço. Acho que o relógio andou mais rápido que o normal, não é possível que meus dias tenham 24 horas, onde elas foram parar?
O outro lado da moeda é quando o tempo parece não ter passado.
No mês passado ganhei dois grandes presentes da vida: reencontrei via Orkut e Facebook (viva a internet!!!) minha melhor amiga de 1º grau, a Lisa, e minha melhor amiga do 2º grau, a Aline.
Eu e Lisa não nos vemos há mais de 20 anos, mas quando conversamos parece que o tempo não passou, que ainda somos as tagarelas da sala de aula, que passavam hooooooooras juntas e sempre cheias de assunto. Nunca deixamos de pensar uma na outra, mesmo sem contato durante tanto tempo.
Quando estou ao telefone com a Aline ainda temos a cumplicidade e o carinho que tínhamos há mais de 15 anos, como se por baixo dessa ponte não tivessem passado ao longo de todo esse tempo amores e desamores, casamentos felizes e desfeitos, amigos que vieram e se foram , filhos, faculdade, trabalho, viagens.
Aos poucos estou colocando os assuntos em dia com as duas. Vou fazer o possível mantê-las por perto para sempre (embora para sempre seja muito tempo)
Ainda em outra situação o tempo me confunde: estou casada há quase 7 anos, o que é muito (ainda mais para os tempos de hoje...), mas ao mesmo tempo (sempre ele) que parece que nos conhecemos ontem, parece que estivemos juntos desde sempre. Dá para entender?
Minhas amigas dizem que não entendem como eu, que já não tenho tempo para nada, ainda resolvo escrever. Minha resposta é sempre que se eu não conseguir tempo para mim mesma dentro dessa correria da vida, enlouqueço.
Preciso escrever para os amigos, nem que seja como a Cintia, que "passou" para dar um oi, preciso ficar com meus cachorros, preciso namorar meu marido, preciso ler, preciso cuidar de mim. Preciso desse tempo só meu para estar inteira e poder cuidar do filhote, trabalhar, administrar a vida and all stuff.
Posso não ser dona de todo o meu tempo, mas cuido da parte que posso dispor e faço caber nela todas as coisas importantes para mim, porque como diz meu pai: - "Como está sem tempo? O que você faz de meia noite às seis?"

segunda-feira, 18 de maio de 2009

...Os mistérios de ser mãe

A maternidade na TV e nos filmes é uma coisa mágica, com efeitos especiais dignos de Hollywood: quando mãe e filho se olham nos olhos começa a tocar uma linda música de fundo, fogos de artifício explodem no céu e naquele momento nasce o maior amor já visto na face da Terra.
Sinto dizer que nem sempre é assim. Comigo não foi.
Embora aquela figurinha tivesse morado dentro de mim por 38 semanas e 3 dias, quando nos olhamos pela primeira vez não houve musiquinha, fogos ou amor instantâneo: éramos dois estranhos que precisariam se conhecer para se amar (ou não).
Tenho que dizer que não sou uma mãe romântica: achei a gravidez um processo chato, demorado (detesto esperar), desconfortável; isso sem falar na falta de glamour, porque quase nada fica bem e usar salto é um desafio permanente ao seu centro de gravidade modificado, só com muita teimosia e determinação para não ceder à rasteirinha e ficar parecendo um barril. Por uma questão de honra eu fui para a maternidade dirigindo e com um salto 10. Para não ter tentação de sair de lá de chinelinho (seria a pá de cal na minha vidinha de perua...), só levei esse sapato, então dois dias depois estava eu, saindo da maternidade com o filhote no colo, barriga costurada e salto 10 no pé. Só não deu para dirigir, achei que era um pouco demais.
Não morro de amores por bebês pequenos, acho um trabalho cansativo e que exige apenas dois neurônios (eu tenho mais de dois e gosto muito de usá-los). Gosto de crianças com mais de três anos, quando já tem vida inteligente naquele corpinho e dá para trocar uma idéia, argumentar e morrer de rir.
Enquanto estava grávida fiquei me perguntando se não seria evolutivamente muito mais interessante pôr ovos. A mamãe deixaria seu ovo em uma moderna central de chocadeiras, com temperatura e umidade controladas, música clássica no ambiente e de vez em quando iria visitar seu "futuro filhote" até que, num belo dia, poderia buscar o pequeno prontinho. Perfeito!!!!
Sempre me perguntam: - "é o primeiro?" e a resposta invariavelmente é que é o último.
Só que não dá para "chocar" um bebê até os três anos, então estou aqui às voltas com a vida de mãe de bebê de seis meses. A expressão "apodrecer no Paraíso" não é exagero, a vida vira de cabeça para baixo, em muitos casos para pior. Sem hipocrisia.
Hoje é preciso planejamento para ir ao salão ou simplesmente para conseguir meia hora para lavar o cabelo com calma. Desde que ele nasceu ainda não saí sozinha com o meu marido, e isso me faz muita falta porque éramos "grudados" 24 horas por dia há mais de 6 anos.
Depois que o bebê nasce é preciso descobrir qual o novo "normal" da sua vida, porque o antigo normal nunca mais vai voltar e pode ser bem chocante quando essa ficha cai. Nos últimos seis meses venho descobrindo aos poucos os rumos da minha nova vida e agora começo a gostar de alguns dos novos aspectos. De alguns.
Eu demorei exatos 5 meses e 3 dias para começar a gostar daquela figurinha de um jeito especial. Tenho que admitir, ele está me conquistando.
Agora as noites sem dormir são bem menos frequentes, mas quando tenho que escolher entre comer, namorar ou dormir, nem vacilo, vou para a cama direto (para dormir, que fique claro). As outras opções ficam meio de lado, assim como as consultas no dentista (Lary, paciência amiga, pleeeeeeeease, juro que esse mês marco um horário!), o trabalho em scrapbooking, as respostas aos e-mails e telefonemas dos amigos...
Se tem uma coisa entre os muitos mitos da maternidade que é verdade é que o tempo passa muito rápido e a memória vai se apagando aos poucos. As lembranças vão ficando tênues, embaçadas, hoje já não me lembro do filhote aos dois ou três meses. Se tem uma dica que posso dar às mães novatas é: tire muitas, muitas, muitas fotos, você vai precisar delas.
Nos últimos seis meses e meio eu e ele aprendemos muito um sobre o outro e um com o outro.
Como diz uma grande amiga minha, ele já me treinou para reconhecer o motivo do seu choro, suas manias e necessidades. Por outro lado, ele reconhece meu rosto e minha voz, dá risadas deliciosas quando estamos juntos (estará rindo de mim ou para mim??), me segue com os olhos se me distancio.
A cada dia estamos mais próximos, mais unidos.
Quero ensinar à ele o amor aos bichos, o gosto pela leitura, a beleza de amar com sinceridade e respeito, o valor de um abraço. Quero que ele acredite que todo ser humano merece respeito, mas que alguns merecem não só respeito como também admiração, por suas idéias e feitos. Quero que ele saiba que o importante em uma pessoa é ser e não ter. Quero que ele invente seus próprios brinquedos, que deixe livre a imaginação, que seja uma criança simples, criativa, curiosa. Quero que ele cresça sabendo que o amor da minha vida é o pai dele e que tenha nesse amor um exemplo de relação entre homem e mulher, plena de amor, cuidado, respeito, cumplicidade e admiração. Quero que ele seja livre para descobrir seus caminhos e o que lhe faz feliz.
Quero viver com ele as brincadeiras e os sonhos de criança.
Eu e meu filhote estamos construindo uma relação pedacinho por pedacinho, cultivando em todos os momentos o amor, a confiança e a cumplicidade que, espero, levaremos vida afora.

...Deus não é surdo (nem os vizinhos)

Neste fim de semana participei involuntariamente de um encontro de casais com Cristo. Sim, involuntariamente, porque eu estava tentando dormir, mas a cantoria às 7 da manhã não deixava escolha nem para mim nem para os moradores dos prédios em volta da escola onde foi realizado o "encontro".
Quem me conhece sabe que respeito profundamente toda e qualquer religião e aqueles que as praticam.
Cada um com seu cada um, deixa o cada um dos outros, já diz com perfeição Zeca Pagodinho. O problema é que não me deixaram no meu "cada um".
As pessoas que participam de eventos religiosos, sejam encontros, cultos ou missas teoricamente são estudiosos da religião.
Nesse barulhento final de semana tive vontade de ir até lá e perguntar sobre o Mandamento que fala sobre "amar ao próximo". Para mim não há como falar em amor sem falar em respeito e eu me senti profundamente desrespeitada no meu direito de descansar.
Todo mundo trabalha durante a semana, acorda cedo, enfrenta problemas, prazos a cumprir, pessoas chatas de quem não há como se esquivar.
No fim de semana é hora mais do que merecida de dormir até mais tarde, descansar, ficar quietinho embaixo das cobertas assistindo TV.
Era isso que eu pretendia fazer, mas tanto no sábado quanto no domingo fui arrancada dos meus sonhos às 7 (!!!!) da manhã pela cantoria, com direito a palmas. Ninguém merece.
Se levantar cedo da cama para encontrar-se com Cristo era o melhor programa em um sábado frio para aquelas pessoas, eu tenho o direito de não achar a menor graça em ser incluída no "encontro" sem ser consultada e sem direito a sair dele.
Fui até a portaria da escola e reclamei. O porteiro me sugeriu passar o final de semana fora, disse que muitos vizinhos o fazem. Achei o cúmulo do absurdo eu ter que sair da minha casa por causa da falta de educação dos outros... fiquei, teimosa que sou.
É um caso clássico de quem prega uma coisa mas age de forma completamente diferente. Na teoria estuda-se os 10 Mandamentos, na prática o que interessa são interesses individuais, o resto que se dane, que vá reclamar com o Bispo.
O mais triste é que são esses os valores que esses casais transmitirão para seus filhos.
E assim seguimos construindo um país de pessoas egoístas e sem educação.

Deus não é surdo.