segunda-feira, 18 de maio de 2009

...Os mistérios de ser mãe

A maternidade na TV e nos filmes é uma coisa mágica, com efeitos especiais dignos de Hollywood: quando mãe e filho se olham nos olhos começa a tocar uma linda música de fundo, fogos de artifício explodem no céu e naquele momento nasce o maior amor já visto na face da Terra.
Sinto dizer que nem sempre é assim. Comigo não foi.
Embora aquela figurinha tivesse morado dentro de mim por 38 semanas e 3 dias, quando nos olhamos pela primeira vez não houve musiquinha, fogos ou amor instantâneo: éramos dois estranhos que precisariam se conhecer para se amar (ou não).
Tenho que dizer que não sou uma mãe romântica: achei a gravidez um processo chato, demorado (detesto esperar), desconfortável; isso sem falar na falta de glamour, porque quase nada fica bem e usar salto é um desafio permanente ao seu centro de gravidade modificado, só com muita teimosia e determinação para não ceder à rasteirinha e ficar parecendo um barril. Por uma questão de honra eu fui para a maternidade dirigindo e com um salto 10. Para não ter tentação de sair de lá de chinelinho (seria a pá de cal na minha vidinha de perua...), só levei esse sapato, então dois dias depois estava eu, saindo da maternidade com o filhote no colo, barriga costurada e salto 10 no pé. Só não deu para dirigir, achei que era um pouco demais.
Não morro de amores por bebês pequenos, acho um trabalho cansativo e que exige apenas dois neurônios (eu tenho mais de dois e gosto muito de usá-los). Gosto de crianças com mais de três anos, quando já tem vida inteligente naquele corpinho e dá para trocar uma idéia, argumentar e morrer de rir.
Enquanto estava grávida fiquei me perguntando se não seria evolutivamente muito mais interessante pôr ovos. A mamãe deixaria seu ovo em uma moderna central de chocadeiras, com temperatura e umidade controladas, música clássica no ambiente e de vez em quando iria visitar seu "futuro filhote" até que, num belo dia, poderia buscar o pequeno prontinho. Perfeito!!!!
Sempre me perguntam: - "é o primeiro?" e a resposta invariavelmente é que é o último.
Só que não dá para "chocar" um bebê até os três anos, então estou aqui às voltas com a vida de mãe de bebê de seis meses. A expressão "apodrecer no Paraíso" não é exagero, a vida vira de cabeça para baixo, em muitos casos para pior. Sem hipocrisia.
Hoje é preciso planejamento para ir ao salão ou simplesmente para conseguir meia hora para lavar o cabelo com calma. Desde que ele nasceu ainda não saí sozinha com o meu marido, e isso me faz muita falta porque éramos "grudados" 24 horas por dia há mais de 6 anos.
Depois que o bebê nasce é preciso descobrir qual o novo "normal" da sua vida, porque o antigo normal nunca mais vai voltar e pode ser bem chocante quando essa ficha cai. Nos últimos seis meses venho descobrindo aos poucos os rumos da minha nova vida e agora começo a gostar de alguns dos novos aspectos. De alguns.
Eu demorei exatos 5 meses e 3 dias para começar a gostar daquela figurinha de um jeito especial. Tenho que admitir, ele está me conquistando.
Agora as noites sem dormir são bem menos frequentes, mas quando tenho que escolher entre comer, namorar ou dormir, nem vacilo, vou para a cama direto (para dormir, que fique claro). As outras opções ficam meio de lado, assim como as consultas no dentista (Lary, paciência amiga, pleeeeeeeease, juro que esse mês marco um horário!), o trabalho em scrapbooking, as respostas aos e-mails e telefonemas dos amigos...
Se tem uma coisa entre os muitos mitos da maternidade que é verdade é que o tempo passa muito rápido e a memória vai se apagando aos poucos. As lembranças vão ficando tênues, embaçadas, hoje já não me lembro do filhote aos dois ou três meses. Se tem uma dica que posso dar às mães novatas é: tire muitas, muitas, muitas fotos, você vai precisar delas.
Nos últimos seis meses e meio eu e ele aprendemos muito um sobre o outro e um com o outro.
Como diz uma grande amiga minha, ele já me treinou para reconhecer o motivo do seu choro, suas manias e necessidades. Por outro lado, ele reconhece meu rosto e minha voz, dá risadas deliciosas quando estamos juntos (estará rindo de mim ou para mim??), me segue com os olhos se me distancio.
A cada dia estamos mais próximos, mais unidos.
Quero ensinar à ele o amor aos bichos, o gosto pela leitura, a beleza de amar com sinceridade e respeito, o valor de um abraço. Quero que ele acredite que todo ser humano merece respeito, mas que alguns merecem não só respeito como também admiração, por suas idéias e feitos. Quero que ele saiba que o importante em uma pessoa é ser e não ter. Quero que ele invente seus próprios brinquedos, que deixe livre a imaginação, que seja uma criança simples, criativa, curiosa. Quero que ele cresça sabendo que o amor da minha vida é o pai dele e que tenha nesse amor um exemplo de relação entre homem e mulher, plena de amor, cuidado, respeito, cumplicidade e admiração. Quero que ele seja livre para descobrir seus caminhos e o que lhe faz feliz.
Quero viver com ele as brincadeiras e os sonhos de criança.
Eu e meu filhote estamos construindo uma relação pedacinho por pedacinho, cultivando em todos os momentos o amor, a confiança e a cumplicidade que, espero, levaremos vida afora.

Um comentário:

  1. Parabéns Karin!
    Adorei o texto acima sobre a maternidade.
    Estou pensando em ter um bebê daqui um tempinho, mas sei que minha vida vai virar de cabeça para baixo. Ainda me pergunto: "Estou disposta a encarar isso?"
    Enquanto isso, estou lendo sobre a maternidade e amadurecendo a minha visão sobre esse assunto.
    Enquanto muitas meninas tem filhos aos 13 - 18 anos eu tenho 30 anos de experiência e sei que criar uma criança é uma eterna doação.
    Novamente meus Parabéns pelo texto.
    Beijos,
    Kelly (kelly@crespidb.com.br)
    Farroupilha - RS

    ResponderExcluir