segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sobrevivi

Filhote vai fazer um ano daqui a uma semana.
.
Nos últimos dias estive pensando que, se é a data que marca o fato de que ele sobreviveu ao difícil período de chegada à esse mundo insano, também significa que eu sobrevivi ao tsunami que é a chegada de um filho.
.
Quem me conhece de perto sabe que eu não sou a criatura mais apaixonada por bebês. Não sou mesmo, nunca escondi. Começo a me interessar por crianças depois dos três anos, quando já há vida inteligente naquele corpinho e já dá para trocar idéias e argumentar. Antes disso é praticamente trabalho braçal, muito tatibitate (que acho um saco) e gracinhas que têm prazo de validade muito curto (tipo 10 segundos).
.
Não acho a menor graça em não ter tempo para mim, muito menos em não poder dedicar -me mais à coisa mais importante da minha vida: meu casamento.
.
Quem ainda não viveu a experiência de ser mãe não se iluda: nunca mais você vai transar sossegada depois que seu filho chegar.
Filho pequeno e vida sexual são tão compatíveis como fogo e água.
A maldita babá eletrônica e suas luzinhas vermelhas parecem um fantasma a assombrar sua expectativa de orgasmo... broxante.
.
Dar "uma rapidinha" pode ser gostoso quando é por opção, mas não por obrigação, todas as vezes, antes que o filhote acorde e te obrigue a sair semi vestida pela casa tentando voltar ao normal e controlar seus instintos para não jogar a belezinha pela janela. Falando pode ser engraçado, na vida real não é.
.
O número de casais que se separam durante o primeiro ano de vida do primeiro filho é enorme. Não me surpreende, a relação muda completamente, já não há mais tanto tempo e energia para investir como antes.
Nos casais onde o marido fica fora o dia todo e não se interessa muito pela pauleira que é o dia a dia de um bebê, a situação piora: ele chega em casa depois do trabalho, toma um banho, janta e vem para cima de você, cheio de amor para dar, carinhosa mas incisivamante cobrando sexo em uma hora que você só quer desmaiar.
Não é o que acontece aqui em casa, onde o Carlos assume tantas responsabilidades quanto eu, mas tenho diversas amigas que reclamam disso.
.
Babá é um item de primeira necessidade. De preferência uma que durma com o bebê pelo menos 3 vezes por semana.
Se não cabe no seu orçamento, não tenha filhos.
A maternidade tem infinitamente mais qualidade quando não é por obrigação, quando você pode escolher em que momentos quer ser mãe. Quando esta opção não existe, vai gerando uma frustração, um cansaço mental que dá vontade de sumir.
Não adianta nada estar ao lado do seu filho o tempo todo se você está tão consumida pelo cansaço e por todo o estresse do dia a dia que não se envolve emocionalmente nas tarefas, seu corpo está ali, mas sua alma, não.
Mais vale ter uma pessoa capacitada que te ajude e que faça o trabalho pesado do que tentar ser super mulher e acabar surtando. Quase aconteceu comigo.
Nas horas em que der vontade você vai lá, dá comida, banho, pega no colo, conta historinhas, canta musiquinhas, enfim, se dá emocionalmente por inteiro. Garanto que um minuto assim vale mais que um dia inteiro de mãe-zumbi.
Eu sou uma mãe muito melhor de segunda a sexta (quando a santa Andréia está por aqui) do que nos finais de semana, quando assumo o trabalho todo das cinco da madrugada até as 8 da noite.
.
Nessa experiência ganhei uma hipersensibilidade auditiva que estava me deixando louca, porque os mínimos sons me acordavam, a descaraga de adrenalina era tão forte que dava uma taquicardia que parecia que meu coração ia sair pela boca. Depois eu não dormia mais e acabava vendo o dia amanhecer. Eu estava passando os dias me arrastando de cansaço, morrendo de sono, totalmente improdutiva, impaciente e muito chata.
A solução foi começar a dormir com tapa ouvidos (iguais aos dos caras que trabalham com britadeiras), só assim estou conseguindo descansar.
.
Mudaram também alguns gostos culinários. Paixões antigas hoje são proibidas: ostras, pequi e fígado hoje me fazem virar do avesso. Jabuticabas agora me dão uma enxaqueca de querer cortar a cabeça fora, mas não consigo resistir e como mesmo assim.
Mesmo não tendo amamentado meu corpo também não é mais o mesmo: hoje uso um número de sutiã a menos do que usava antes.
Tudo que esvazia acaba por murchar e cair... Comigo não foi nada radical, nem terrível, mas o suficiente para que agora próteses de silicone encabecem minha wish list.
Ainda bem que não tive estrias, para elas não há solução.
.
Sair à noite não é mais tão prazeroso: primeiro, porque acordei as 5 da madrugada, então às 10 da noite já não sou mais ninguém; segundo, porque fico pensando que, se voltar para casa muito tarde, vou ter pouco tempo para dormir porque o filhote acorda às cinco... e tenho que levantar para ficar com ele.
.
O Thomas já fala mã-mã-mã-mã... mas usa esse mesmo som para se referir ao livro, às cadelas daqui de casa, aos brinquedos que quer... menos a mim! Ele só me reconhece nas fotos: "Thomas, cadê a Mama?" Aí vem aquele dedinho gordinho e aponta para a minha imagem no porta retratos. Não posso dizer que não acho bonitinho.
.
A paixão dele é o Dada, o pai. Em tudo se parecem: as expressões, o formato das mãos, os espirros quando o tempo muda, o refluxo (quem disse que a gente só herda coisa boa?)...
Quando o pai chega o rosto dele se ilumina, e vice versa.
.
Como diz meu amigo João Marcos, houve dolo eventual, eu assumi o risco das consequências dos meus atos, agora só me resta conviver com a minha nova vida....
Claro que tem a parte boa da maternidade, a gente volta a ser criança e brinca de boneca, troca roupas e sapatos, leva para passear, acompanha o aprendizado, o crescimento, tira fotos... mas, juro, o custo benefício não compensa. Pelo menos até agora é essa a minha opinião.
Se eu pudesse voltar atrás não teria um filho, mas isso não é possível.
Todas essas reflexões não valem nada, se não existe. O tempo não pára e o tempo não volta.
.
Ele já está aqui, é lindo, inteligente (juro que eu cortaria os pulsos se tivesse um filho burro) e faz parte de nossas vidas de um jeito tão intenso que é até difícil de explicar.
Vamos aos poucos construindo uma relação nossa, sempre baseada na verdade, no carinho, na cumplicidade e no respeito. Sei que ainda vamos nos divertir muito juntos.
.
Não sei que que o tempo nos reserva, só o que sei até agora é que sobrevivi ao primeiro ano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário